Pesquisa foi realizada por alunos do curso de Nutrição da Universidade Feevale
Uma pesquisa realizada por três estudantes do curso de Nutrição da Universidade Feevale aponta que as pessoas alteraram o seu comportamento alimentar durante a pandemia de Covid-19, dando preferência a alimentos hiperpalatáveis, que são ricos em sal, açúcar e gorduras. Essa alimentação inadequada, com grande consumo de doces, fast-foods e bebidas alcoólicas pode tornar-se um hábito alimentar, favorecendo, em longo prazo, o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis.
O estudo “A influência dos sentimentos no comportamento alimentar de adultos durante o período de distanciamento social da Covid-19” foi feito pelos estudantes Bianca de Athayde, Eduardo Grudka Pereira e Luana Santana Fröhlich na disciplina de Metodologia Científica, ministrada pela professora Ana Carolina Kayser, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social. O objetivo foi identificar a associação dos efeitos psicológicos do isolamento social com as mudanças comportamentais na alimentação e na qualidade alimentar.
A amostra contou com a participação de 426 pessoas, predominantemente do sexo feminino, solteiras, com idades entre 18 e 24 anos e com ensino superior em andamento. A maioria – 91,3% – reside na Região Metropolitana de Porto Alegre e 3,3% em outros Estados. A renda familiar média ficou acima de cinco salários mínimos, apontando um público com um bom poder aquisitivo. Das pessoas que participaram, 71,6% estão empregadas, com 69,5% trabalhando de forma presencial, e 51,9% não estão estudando no momento. Existe ainda uma pequena parcela – 28,6% – que trabalha e estuda.
A professora Ana Carolina Kayser diz que a pesquisa resultou em um artigo científico de ótima qualidade, que será submetido ao Inovamundi, programa de difusão do conhecimento científico e extensionista da Universidade Feevale, que ocorrerá de 17 a 24 de outubro. Organizado pela Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão (Proppex), o Inovamundi busca estimular a produção, a divulgação e a discussão de conhecimentos científicos, tecnológicos e sociais desenvolvidos no contexto universitário e na Educação Básica.
Resultados
A partir da análise dos dados, os estudantes constataram que, referente aos alimentos consumidos em maior quantidade e/ou que passaram a ser consumidos durante o período de distanciamento social, 55,2% representam o grupo de doces e 34% de fast foods. Também houve um aumento no consumo de alimentos em geral, onde 60,3% consideram ter consumido mais alimentos que o habitual.
Quando há sentimentos positivos, os alimentos com alto valor nutritivo, como frutas e verduras, alimentos integrais e comida caseira, entre outros, refletem 39,9% das escolhas alimentares, enquanto os alimentos hiperpalatáveis, como doces, fast foods, frituras e refrigerantes, por exemplo, apresentam 28,9%. Já quando há sentimentos negativos, os alimentos hiperpalatáveis representam 57,8% e os alimentos com alto valor nutritivo 9,9%. “Percebemos, com a pesquisa, que as emoções têm influência direta no comportamento alimentar e contribuem para uma alimentação emocional, em que o desejo de comer é maior do que a necessidade fisiológica do organismo”, afirmam os estudantes, acrescentando que o comportamento alimentar engloba determinantes internos, como aspectos psicológicos, emoções e sentimentos, e externos, como aspectos econômicos, culturais, sociais e a influência de mídias.
Os alunos lembram que fatores psicológicos são gatilhos para que hábitos alimentares menos saudáveis sejam desencadeados, podendo gerar transtornos alimentares e/ou doenças crônicas.
Os maus hábitos alimentares repercutem na saúde como um todo, interferindo na qualidade de vida da pessoa, além de trazerem problemas socioeconômicos para a saúde pública do país, acarretando custos com atendimentos, tratamentos e acompanhamentos do paciente”, ressaltam.
Na pesquisa, 54% consideram sentir-se mais mal-humorados durante a pandemia. Ao serem questionados sobre os sentimentos com os quais mais se identificam durante o período de distanciamento social, predominam os sentimentos negativos, como preocupação (66,2%), ansiedade (64,3%) e incerteza (60,6%). Sobre os sentimentos positivos, foram mais indicados a esperança (26,8%), a gratidão (22,5%) e a tranquilidade (12,4%). Seguem outros resultados:
Ao experimentar sentimentos positivos (alegria, tranquilidade, bem-estar, motivação etc.) o que prefere comer e/ou beber:
- Alimentos com alto valor nutritivo: 39,9%
- Alimentos hiperpalatáveis: 28,9%
- Bebidas alcoólicas: 12,5%
- Bebidas não-alcoólicas: 8,3%
- Nenhum alimento específico: 9,4%
- Inapetência: 1%
Ao experimentar sentimentos negativos (estresse, raiva, ansiedade, incerteza etc.) o que prefere comer e/ou beber:
- Alimentos hiperpalatáveis: 57,8%
- Alimentos com alto valor nutritivo: 9,9%
- Bebidas alcoólicas: 11%
- Bebidas não-alcoólicas: 6,5%
- Nenhum alimento específico: 6%
- Inapetência: 8,8%
Compra de alimentos no distanciamento social:
- Compra mais alimentos do que o habitual: 41,3%
- Compra menos alimentos do que o habitual: 16,1%
- Não houve diferença: 46,9%
Reconhecimento da diferença entre a fome física e fome emocional:
- Sabe diferenciar: 78,4%
- Não sabe diferenciar: 14,3%
- Não vê diferença: 7,3%